O APEGO AOS RESSENTIMENTOS E DIFICULDADES EM PERDOAR
O verdadeiro sentido da palavra "perdão" acabou sendo distorcido. Esse termo muitas vezes é associado a algum tipo de religiosidade ingênua, como se os que defendessem a idéia do perdão fossem pessoas bobas ou "boas" demais. Entretanto, perdoar não tem nada a ver com bondade (e bondade também não tem nada a ver com ingenuidade, diga-se de passagem). Não perdoamos alguém ou algo para sermos bons com a outra pessoa. Quando se tem algo a ser perdoado, significa que aconteceu alguma coisa, normalmente entre duas pessoas, onde um fez algo que acabou provocando um sofrimento no outro. A partir daí, existe um "responsável" pelo sofrimento e outro que acabou sendo a vítima. A vítima então poderá ou não perdoar o causador do seu sofrimento. E o que realmente significa perdoar? Significa se libertar de sentimentos negativos guardados dentro de si mesmo, que causam sofrimento. Esses sentimentos não fazem mal para o algoz, pois são sentidos dentro da vitima que guarda mágoa, tristeza, raiva e outros ressentimentos que a pessoa aponta o outro como sendo o causador de tudo. Mesmo que o outro tenha realmente feito algo terrível, apontá-lo como responsável e justificar seus ressentimentos não irá reverter o ocorrido no passado, tampouco irá amenizar o trauma. Não estou defendendo as pessoas que cometem atos terríveis. Se alguém agiu de forma condenável e até criminosa, é justo que pague por isso. Se tiver que ser denunciado, que seja. Devemos sim agir. É possível liberar os sentimentos negativos e ao mesmo tempo tomar as atitudes que devem ser tomadas. Guardar ressentimentos fere única e exclusivamente a quem os sente. Não bastasse ter passado pela experiência negativa que outra pessoa nos infringiu, perpetuamos os sentimentos de mágoa e raiva dentro de nós. Alguns carregam por uma vida toda. O fato desagradável às vezes ocorreu uma só vez no passado, mas o nosso interior poderá continuar a reproduzir o sofrimento indefinidamente, como um eco que nunca termina. Esse sofrimento que nós mesmos perpetuamos acaba sendo muito maior do que o sofrimento pontual que ocorreu no passado, por mais intenso que tenha sido na época. Não parece algo estranho o que a mente nos faz? Existe uma lógica inconsciente equivocada que nos faz agir dessa forma. A lógica inconsciente que está por trás do nosso apego aos ressentimentos é a falsa crença de que eles nos protegem de novos acontecimentos negativos. O que não é verdadeiro. Além de não impedir novos acontecimentos, o ressentimento torna um sofrimento que poderia ser apenas pontual, em uma coisa crônica. Será que tem algo mais nocivo do que isso? Essa é a lógica do nosso ego, sempre buscando justificativas para que nós deixemos o sofrimento interior permanecer e crescer. Continuando a aprofundar sobre esse pensamento, existe ainda a crença de que, se perdoarmos alguém, teremos que conviver novamente com a pessoa e assim ela poderá novamente nos fazer algum mal. Mais um equívoco. Perdoar não quer dizer virar um ingênuo ou ficar burro. É possível perdoar e ao mesmo tempo não voltar mais a ter a mesma relação com alguém. É possível perdoar e impor limites, perdoar e se afastar. Isso por que o perdoar diz respeito apenas a dissolver sentimentos negativos internos seus, para livrar você da perpetuação de um sofrimento. E é só isso. Vamos supor uma sociedade onde um sócio passou a perna no outro. O que foi trapaceado poderá se libertar cem por cento dos ressentimentos com relação ao ex-sócio, e ao mesmo tempo nunca mais querer fazer negócios com ele novamente, pois aprendeu que ele é uma pessoa desonesta. O ressentimento vai embora, o aprendizado fica. Perdoar também não é premiar o outro. Essa é também mais uma lógica inconsciente do ego, que nos ajuda a não liberar os ressentimentos. Inconscientemente, acreditamos que a nossa raiva pune a outra pessoa e que a liberação do sentimento seria um benefício para o outro. Acho que nem preciso explicar o quanto isso é um equívoco. Estas amarras nos levam a proteger os sentimentos negativos dentro de nós, como se estivéssemos nos protegendo de coisas ruins, quando na verdade estamos nos infringindo um grande sofrimento.
Andre Lima - http://www.eftbr.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário